sábado, 16 de março de 2024

Um ano de lembranças: A eterna saudade de Antônio Carlos Valentim

 


Há exatamente um ano, despertamos carregados de esperança. As palavras do boletim médico do dia anterior nos alimentaram com uma chama renovada de esperança. Sonhávamos com o retorno para casa, vislumbrando dias melhores. Seguimos nossas rotinas, mesmo com o coração ansiando por novas notícias. Eu estava sentado em frente ao computador quando Jônatas entrou correndo, seu rosto contorcido em angústia. Em um único grito, sem hesitação, ele disse: "Papai morreu". O chão pareceu abrir-se sob meus pés, e uma onda de lembranças inundou minha mente, mesclando-se à dor lancinante que agora dominava meu ser.

Mas mesmo diante dessa tragédia, a vida exigia que eu fosse forte. Tinha que comunicar a notícia à minha família antes que ela se espalhasse ainda mais. Estávamos em casa, eu, mamãe e a cuidadora e minha tia Ceição. Estava perdido. Jônatas voltou para hospital, onde Rhaice já estava. Verbena e Edilberto, meus anjos em tempos turbulentos, logo chegaram.

No entanto, o momento mais difícil ainda estava por vir: contar à minha mãe. Sozinho, eu não teria coragem. Esperei por Betinha e Jônatas, e juntos, buscamos forças divinas para enfrentar o que parecia insuportável. O coração de minha mãe, Maria José,  se partiu em mil pedaços ao ouvir a notícia. Ela, com uma força sobrenatural acariciou o espaço ao lado dela na cama, como se ainda pudesse sentir a presença de seu companheiro de sete décadas. Com voz embargada, ela murmurou: "Deus recolheu meu marido. Fui profundamente feliz ao seu lado".

Enquanto Jônatas tratava dos trâmites no hospital, eu e Edilberto nos ocupávamos dos detalhes burocráticos. Enquanto Betinha e Verbena  preparavam a casa. No mesmo momento  os filhos que moram fora se deslocavam para uma viagem diferente, um último adeus ao patriarca. Carlê, morando foram do país, sofria a dor da perda, sozinha. Cada um lidava com sua dor à sua maneira, mas unidos pelo amor e pelas lembranças.

 Quando o corpo de meu pai chegou em casa, o peso da realidade se abateu sobre nós. Contemplando o caixão na sala e tocando o corpo já frio, as lágrimas inundaram meu rosto. Ali jazia o homem que me criara, que me ensinara valores que nenhum diploma acadêmico poderia suplantar. Ele sempre fora minha âncora, minha referência de caráter e integridade.

 Um ano se passou desde sua partida, e ainda estamos aprendendo a conviver com a saudade. Cada canto da casa evoca sua presença, cada detalhe nos faz lembrar do sorriso de meu pai. Nesse um ano sem você, muita coisa mudou. A mais dolorosa foi a partida de Jônatas, nos deixando ainda mais desamparados. Continuo em tratamento, buscando forças nas fisioterapias, seguindo o desejo que o senhor expressou tantas vezes, de me ver caminhando, deixando a cadeira de rodas. Lembro-me vividamente do momento em que dei meus primeiros passos após tanto esforço, indo até seu e senhor ao me ver chorou e orou, agradecendo a Deus. Mas houve coisas boas que o senhor não viu: a reconciliação de "Nara", a chegada de um novo cachorro que batizamos de "Chico",  a conclusão da reforma da casa, que você apenas começou a ver, a volta de Rayzza e Heitor para Oeiras... Ah, como dói sua ausência, pai! Cada pergunta que o senhor me fazia sobre as notícias da politica local, e depois de contar, eu dizia: “Eita Oeiras que tem coisas” e o senhor gargalhando dizia: “Esse Lameck, é terrível”. Ah papai, “meu menino”, cada menção ao seu nome, traz à tona uma saudade avassaladora. Mamãe e tia falam de você todos os dias, e nós, seus filhos, netos, sobrinhos, noras e aqueles que partilham nossa intimidade seguimos o mesmo caminho. O senhor e a sua alegria continuam a ser o assunto principal dos nossos encontros. Lembramos suas histórias, suas tiradas e rimos muito, afinal, se apegar a isso é uma forma de manter viva a sua lembrança. Você marcou nossas vidas de maneira extraordinária, e seu amor será eterno.

 Enquanto o tempo avança, o amor por seu Antônio Carlos só cresce. Sua presença é sentida em nossas vidas, em cada gesto de carinho e em cada lembrança compartilhada. Nosso vínculo transcende a barreira da morte, e seu exemplo continua a nos guiar, agora e para sempre.

 Te amaremos eternamente, Carlos José Valentim, seu Antônio Carlos

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