quarta-feira, 27 de março de 2024

Acolher o outro: Eis o propósito da Semana Santa

 


Na exploração do verdadeiro significado da Semana Santa, somos convocados a mergulhar em reflexões que transcendem os meros rituais e tradições. A Campanha da Fraternidade, com sua mensagem de fraternidade e amizade social, ecoa profundamente em nossas consciências, lembrando-nos do lema bíblico que nos convoca à união: "Vós sois todos irmãos e irmãs".

Contudo, é crucial confrontar a realidade que nos cerca: será que verdadeiramente enxergamos uns aos outros como irmãos e irmãs? Às vezes, é fácil reconhecer como irmão aquele que compartilha nossas ideias, crenças e valores, pois essa afinidade nos conforta e reforça nossa sensação de pertencimento. No entanto, a verdadeira prova da fraternidade surge quando nos deparamos com aqueles que desafiam nossas convicções, nossos padrões, nossos preconceitos arraigados. É nessas situações que somos desafiados a transcender nossas próprias limitações e a expandir nossa compreensão do que significa ser parte de uma comunidade. É fácil amar aqueles que são semelhantes a nós, mas o verdadeiro teste do amor fraterno surge quando nos esforçamos para entender e aceitar aqueles que são diferentes, aqueles cujas vidas e experiências nos desafiam a sair de nossa zona de conforto e a confrontar nossas próprias suposições e privilégios.

Neste contexto, olhar além das aparências torna-se uma experiência desafiadora. Devemos nos questionar: consideramos como irmãos e irmãs aqueles que possuem uma cor de pele diferente da nossa? Aqueles que carregam consigo culturas e histórias distintas das nossas? E quanto às pessoas com deficiência ou que possuem características atípicas em suas vidas, como autismo, hiperatividade, TDAH e outras condições?

E o que dizer daqueles que habitam à margem da sociedade, desprovidos de privilégios e frequentemente estigmatizados? Será que conseguimos reconhecê-los como irmãos e irmãs - os homossexuais, as prostitutas, as pessoas transexuais, os drogados, os que convivem com alguma doença?

A Semana Santa nos convida a uma jornada de autoconhecimento profundo, instando-nos a confrontar nossos preconceitos e a expandir os horizontes de nossa compaixão e empatia. Pois, no cerne do verdadeiro significado desta semana sagrada, temos a chance de vislumbrar em nós a possibilidade de amar e acolher a todos, sem exceção.

É nos gestos de humildade, de servidão e de perdão que descobrimos a verdadeira essência do amor fraterno. A verdadeira celebração não reside apenas nos rituais religiosos, mas sim em viver o amor em sua plenitude, transcendendo barreiras e julgamentos.

Que, nesta Semana Santa, nossos corações se abram para reconhecer a humanidade em cada rosto que encontramos. Que possamos nos tornar instrumentos de paz, reconciliação e amor, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa, solidária e fraterna. Pois, afinal, somos todos irmãos e irmãs nesta jornada da vida.

quarta-feira, 20 de março de 2024

Além das aparências

 


Ninguém sabe o que a gente leva dentro do coração. Até os mais próximos, os mais íntimos, os mais de tanto tempo... Eles também não sabem o que a gente leva dentro. E são tantas coisas que nos acompanham. Tantos sentimentos, medos, desilusões, alegrias incontroláveis, tristezas profundas, felicidades, inseguranças, suspiros, tantos, quantos.

As pessoas conhecem a nossa versão, o nosso lado aparente, as nossas queixas, mas não a nossa essência. Pouca gente sabe como a gente convive por dentro, sente, e é. De verdade.

Apenas nós levamos na bagagem da vida a nossa melhor parte, e o nosso mais bonito lado: o de dentro.

Porque é lá, nos recantos mais secretos da alma, que guardamos os sonhos mais preciosos, os desejos mais íntimos, as lágrimas mais sinceras e os sorrisos mais genuínos. É lá que se encontram os segredos mais profundos, os momentos mais significativos, os aprendizados mais importantes.

E mesmo que tentemos expressar tudo isso, mesmo que compartilhemos pedaços de nós com o mundo lá fora, sempre haverá uma parte que só nós conhecemos verdadeiramente. Uma parte que pertence somente a nós, que nos define de uma maneira que nenhuma palavra ou gesto poderia descrever completamente.

Que cada um de nós possa honrar essa parte que nos torna únicos e preciosos, essa essência que habita em nosso interior. Que cada um de nós cultive esse jardim interno com carinho e cuidado, regando-o com amor, aceitação e compreensão, e que possamos lembrar, mesmo nos momentos mais difíceis, que somos muito mais do que as máscaras que utilizamos para enfrentar o mundo lá fora. Cada um de nós é um ser de luz, de beleza, de profundidade. Feitos de sonhos, de esperanças, de amor. Somos, acima de tudo, nós mesmos.

Sobre perdão e gratidão

 


Nas emaranhadas tramas do tempo, entre os suspiros das horas e os batimentos cardíacos dos dias, há uma constante que pulsa em todos nós: a necessidade de conexão. Nesse labirinto de relações, onde os caminhos se entrelaçam em abraços e despedidas, há verdades simples que muitas vezes ignoramos até que nos seja sussurrada pela voz sábia do destino.

 

Nunca se esqueça de dizer aos seus entes queridos que os ama. É uma frase simples, mas carregada de significado profundo, capaz de erguer pontes sobre os abismos da solidão. Os dias são efêmeros, e as palavras não ditas são fantasmas que assombram o coração. Portanto, que o amor seja uma canção entoada diariamente, uma melodia que embala os sonhos e afasta os medos.

 

Mas não se prenda ao ponto de ser dependente, pois nessa vida tudo é passageiro. Somos navegantes em um mar de mudanças, onde as correntes nos levam para destinos desconhecidos. Amar é voar com as asas do afeto, mas também é saber quando soltar as cordas e deixar que o vento da liberdade nos conduza.

 

Assim quando você partir ou quem amas partir, ninguém estará incompleto. A dor da partida é como uma ferida que nunca cicatriza completamente, mas é também um lembrete de que os laços de amor transcendem as fronteiras da carne. Na memória e nos corações daqueles que ficam, o amor se eterniza, transformando ausência em presença e saudade em celebração.

 

Lembre-se sempre de fazer o bem ao próximo, mas não ao ponto de sua ação beneficente ser a desventura de outro. No palco da vida, cada ato é uma peça no intricado quebra-cabeça da existência. Que nossas mãos sejam instrumentos de generosidade, mas que nossos olhos estejam abertos para enxergar além das aparências, para que o bem que fazemos não se transforme em mal para outros.

 

Lembre-se que a mão que bate é a mesma que aplaude; então faça por merecer a palma certa. O equilíbrio é a dança delicada entre a ação e a reação, entre o dar e o receber. Que nossas escolhas sejam como sementes lançadas ao vento, que germinam em colheitas de gratidão e reconhecimento.

 

Não desmereça seus amigos, mas não trate a todos como se fossem seus irmãos. A amizade é um jardim que floresce com cuidado e atenção, mas também requer cercas para proteger suas flores mais frágeis. Que a confiança seja o solo fértil onde as raízes da amizade se aprofundam, mas que a prudência seja a cerca que protege nossos corações de decepções inevitáveis.

 

Aprenda a perdoar, mas também aprenda com seus erros: nem todos estão evoluídos e preparados para fazer o mesmo, saiba disso. O perdão é uma ponte que nos leva além das mágoas e ressentimentos, mas também é um espelho que reflete nossa própria humanidade. Que o perdão seja o primeiro passo rumo à reconciliação, mas que também seja um lembrete de nossa própria imperfeição.

 

Sinta falta, mas não se apegue tanto: deixe espaço para as novas aventuras da vida. A vida é uma trilha repleta de encontros e despedidas, de risos e lágrimas, de desafios e superações. Que saudade seja o perfume que embalsama as lembranças, mas que também seja o vento que nos impulsiona para frente, rumo a novos horizontes.

 

Ame, ame muito, o quanto puder; e mesmo que dure meses, dias ou horas, faça valer a pena. O amor é a essência que dá cor e significado a cada momento de nossas vidas, é a chama que aquece nossos corações nos dias mais frios. Que amar seja nossa maior e mais bela escolha, mesmo que seja breve como um suspiro, que seja intenso como um vulcão em erupção.

 

E no fim, quando se lembrar do passado, não importa que seja uma lembrança feliz ou triste, sempre sorria. Sorria pelos bons momentos, e por ter superado e sobrevivido aos maus. A vida é uma tapeçaria tecida com fios de sorrisos e lágrimas, de alegrias e tristezas. Que o sorriso seja nossa canção final, uma melodia de gratidão pela dança da vida.

sábado, 16 de março de 2024

Um ano de lembranças: A eterna saudade de Antônio Carlos Valentim

 


Há exatamente um ano, despertamos carregados de esperança. As palavras do boletim médico do dia anterior nos alimentaram com uma chama renovada de esperança. Sonhávamos com o retorno para casa, vislumbrando dias melhores. Seguimos nossas rotinas, mesmo com o coração ansiando por novas notícias. Eu estava sentado em frente ao computador quando Jônatas entrou correndo, seu rosto contorcido em angústia. Em um único grito, sem hesitação, ele disse: "Papai morreu". O chão pareceu abrir-se sob meus pés, e uma onda de lembranças inundou minha mente, mesclando-se à dor lancinante que agora dominava meu ser.

Mas mesmo diante dessa tragédia, a vida exigia que eu fosse forte. Tinha que comunicar a notícia à minha família antes que ela se espalhasse ainda mais. Estávamos em casa, eu, mamãe e a cuidadora e minha tia Ceição. Estava perdido. Jônatas voltou para hospital, onde Rhaice já estava. Verbena e Edilberto, meus anjos em tempos turbulentos, logo chegaram.

No entanto, o momento mais difícil ainda estava por vir: contar à minha mãe. Sozinho, eu não teria coragem. Esperei por Betinha e Jônatas, e juntos, buscamos forças divinas para enfrentar o que parecia insuportável. O coração de minha mãe, Maria José,  se partiu em mil pedaços ao ouvir a notícia. Ela, com uma força sobrenatural acariciou o espaço ao lado dela na cama, como se ainda pudesse sentir a presença de seu companheiro de sete décadas. Com voz embargada, ela murmurou: "Deus recolheu meu marido. Fui profundamente feliz ao seu lado".

Enquanto Jônatas tratava dos trâmites no hospital, eu e Edilberto nos ocupávamos dos detalhes burocráticos. Enquanto Betinha e Verbena  preparavam a casa. No mesmo momento  os filhos que moram fora se deslocavam para uma viagem diferente, um último adeus ao patriarca. Carlê, morando foram do país, sofria a dor da perda, sozinha. Cada um lidava com sua dor à sua maneira, mas unidos pelo amor e pelas lembranças.

 Quando o corpo de meu pai chegou em casa, o peso da realidade se abateu sobre nós. Contemplando o caixão na sala e tocando o corpo já frio, as lágrimas inundaram meu rosto. Ali jazia o homem que me criara, que me ensinara valores que nenhum diploma acadêmico poderia suplantar. Ele sempre fora minha âncora, minha referência de caráter e integridade.

 Um ano se passou desde sua partida, e ainda estamos aprendendo a conviver com a saudade. Cada canto da casa evoca sua presença, cada detalhe nos faz lembrar do sorriso de meu pai. Nesse um ano sem você, muita coisa mudou. A mais dolorosa foi a partida de Jônatas, nos deixando ainda mais desamparados. Continuo em tratamento, buscando forças nas fisioterapias, seguindo o desejo que o senhor expressou tantas vezes, de me ver caminhando, deixando a cadeira de rodas. Lembro-me vividamente do momento em que dei meus primeiros passos após tanto esforço, indo até seu e senhor ao me ver chorou e orou, agradecendo a Deus. Mas houve coisas boas que o senhor não viu: a reconciliação de "Nara", a chegada de um novo cachorro que batizamos de "Chico",  a conclusão da reforma da casa, que você apenas começou a ver, a volta de Rayzza e Heitor para Oeiras... Ah, como dói sua ausência, pai! Cada pergunta que o senhor me fazia sobre as notícias da politica local, e depois de contar, eu dizia: “Eita Oeiras que tem coisas” e o senhor gargalhando dizia: “Esse Lameck, é terrível”. Ah papai, “meu menino”, cada menção ao seu nome, traz à tona uma saudade avassaladora. Mamãe e tia falam de você todos os dias, e nós, seus filhos, netos, sobrinhos, noras e aqueles que partilham nossa intimidade seguimos o mesmo caminho. O senhor e a sua alegria continuam a ser o assunto principal dos nossos encontros. Lembramos suas histórias, suas tiradas e rimos muito, afinal, se apegar a isso é uma forma de manter viva a sua lembrança. Você marcou nossas vidas de maneira extraordinária, e seu amor será eterno.

 Enquanto o tempo avança, o amor por seu Antônio Carlos só cresce. Sua presença é sentida em nossas vidas, em cada gesto de carinho e em cada lembrança compartilhada. Nosso vínculo transcende a barreira da morte, e seu exemplo continua a nos guiar, agora e para sempre.

 Te amaremos eternamente, Carlos José Valentim, seu Antônio Carlos

terça-feira, 12 de março de 2024

O silêncio do coração

 


Ao acordar, olhei ao redor e me deparei com a quietude do meu quarto. A luz do sol penetrava pelas frestas da janela, pintando o ambiente com tons opacos. Nesse instante, lembrei-me das palavras de um velho amigo: "Ninguém sabe o que a gente leva dentro do coração."

Essa frase ecoou em minha mente, ressoando como um mantra. É verdade, pensei. Por mais próximos que sejamos de alguém, nunca conhecemos verdadeiramente o que se passa dentro de seus corações e mentes. Somos seres complexos, repletos de sentimentos que carregamos como bagagem ao longo da vida. Alegrias, tristezas, dores, medos, esperanças... uma infinidade de emoções que moldam quem somos.

Lembrei-me também das vezes em que permiti que pequenas mágoas e desentendimentos afastassem pessoas queridas. Quantas vezes criei barreiras por orgulho ou ressentimento, apenas para perceber mais tarde que nada daquilo importava...O tempo é tão precioso, e muitas vezes o desperdiçamos em discórdias fúteis.

É nas pequenas coisas que reside a essência da vida. Um sorriso compartilhado, um abraço apertado, uma palavra de carinho... gestos simples que podem fazer toda a diferença. Refleti sobre todas as vezes em que deixei de dizer às pessoas o quanto as amo, o quanto são importantes para mim. Como é fácil cair na armadilha da rotina e esquecer de expressar nossos sentimentos mais profundos.

Pai, mãe, irmãos, familiares, amigos... todos merecem saber o quanto são amados. É preciso quebrar o silêncio e deixar transbordar o que sentimos em nosso interior. Afinal, o amor é a essência da vida, a força que nos impulsiona a seguir em frente mesmo nos momentos mais difíceis.

Diga a quem é importante para você o quanto a admira e o quanto é grato por todo carinho, compreensão, cuidado. Expresse todo o amor e gratidão que sente. E prometa nunca mais se deixar levar por desavenças que possa de  afastar das pessoas. Porque no final das contas, o que realmente importa não são as coisas materiais ou as conquistas mundanas. O que verdadeiramente importa são os laços que cultivamos, as relações que construímos, o amor que compartilhamos. E é esse amor que nos mantém vivos, que dá significado à nossa existência.

Que possamos sempre lembrar que, por mais que tentemos esconder o que levamos dentro, é esse interior que verdadeiramente nos define. E é nele que reside a nossa verdadeira essência, o nosso verdadeiro eu.

Acolher o outro: Eis o propósito da Semana Santa

  Na exploração do verdadeiro significado da Semana Santa, somos convocados a mergulhar em reflexões que transcendem os meros rituais e tr...