sábado, 14 de julho de 2007

DURANTE MUITO TEMPO




Hoje olhei-me de frente,
Olhei-me de perfil e de costas.
Olhei-me por dentro.
Há tempos eu desejava fazê-lo.
Vi em mim um ser arruinado.
Vi cinzas.
Vi derrota
Vi o fracasso perante
Ao sentimento sublime e indomável
Que há tempos e tempos
Apossara-se de mim pela eternidade.
Cresci.
Envelheci.
Acho que vivi.
Olhei-me hoje e vi um ser ambíguo,
Fumando com tamanha graciosidade que chegava mesmo a ser sutil.
Em outros tempos, o mesmo ser não terá forças o suficiente
Para manter entre os dedos algo que
Ele acredita ser seu companheiro.
Fumou...
...E quando engoliu a fumaça,
Sentiu retornar para dentro de si
Tudo o que nunca havia saído.
Nem tão pouco sairá...
Pois ele insiste em querer
Eternizar-se.

Um louco


Afaste-se de mim
Sou louco.
Sou um perigo para a humanidade.
Afaste-se de mim.
Ninguém tente ser meu amigo
Ninguém tente me abraçar
Ninguém tente me beijar.
Afaste-se
Sou louco.
Sou diferente. Quero a paz.
Quero a alegria.
Busco a felicidade.
Acredito na solidariedade.
Sonho com justiça
E amor entre os povos.
Quero um mundo diferente
Afaste-se de mim.
Sou um perigo para o mundo.
Tento fazer as pessoas olhar a vida com seriedade
E viver o que elas têm de melhor.
Afaste-se de mim.
Ou me dê a sua mão.

METADES


Metade de mim é segredo.
Outra metade, revelação.
Metade de mim é solidão.
Outra metade, liberdade.
Metade de mim é medo.
Outra metade, coragem.
Metade de mim sofrimento.
Outra metade, felicidade.
Metade de mim é dor.
Outra metade, alegria.
Metade de mim é desespero.
Outra metade, calmaria.
Metade de mim é timidez.
Outra metade é desejo.
Metade de mim sou eu.
Outra metade é você.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Sem Dor


Sem dor,
Eu rasguei minhas carnes,
Minha pele, minha casca,
Meu âmago,
Minhas mais profundas e incomunicáveis entranhas...
Sem dor,
Eu dei os mais violentos tapas
Nas faces dos meus melhores amigos
E cuspi em um mar de sangue
Que escorria de minha própria alma...
Sem dor
Eu gritei obscenidade aos idosos,
Utopias aos políticos,
Ofensas aos mais velhos
E calei-me para morder
As palavras carinhosas que eu recebi de mim mesmo...
Sem dor
Eu arranquei com as unhas das mãos e dos pés,
Todas as máscaras que em mim havia.
Mas havia mais.
Muito e muito mais.
E quanto mais eu arrancava
E via minhas caras indo ao chão, como excrementos,
Menos dor eu sentia,
Pois o orgasmo era celestial; ejaculava...
Sem dor
Eu rompi o cordão carnal que me ligava ao mundo e ao medo
De sentir culpa ou remorso...
Sem dor
Eu virei meus sentimentos do avesso, e o futuro,
Que eu conheço de cor, quebrei com um grito,
Transformando o meu eu em cacos de vidros...
Sem dor
Eu me arrasei,
Me envenenei,
Me cortei,
Me tirei a vida,
Arrastei-me pelo chão, comi a terra que meus pés pisavam,
E bebi meu suor que fedia.
Tudo isso para ver que sem dor,
Não há vida.




Lam Valentim

VALENTE VALENTIM

Parodiando uma frase de um grande artista que diz que a arte é uma mentira que nos transparece a verdade, nos faz perceber que geralmente é de talentos exorbitantes que alguns artistas despontam no cenário cultural. É notório que a velha urbe, a “abaretama torre” é uma plêiade de músicos, escritores e a pouco mais de uma década estreou nesse mundo vasto mundo um menino, que cresceu e transformou-se em anjo, pois como ele bem diz: “os artistas não tem sexo”.
Dessa maneira, esse oeirense revigorou a arte cênica local, abrilhantando ainda mais a arte mafrensina, dando vida ao velho teatro que hoje ruína, apresentando espetáculos, digamos, sem demagogia, dignos de Shakespeare. Lameck Valentim...
Valente, gerou o IPA, então o verbo se fez texto, resultando em peças que ainda hoje são bastante prestigiadas e premiadas, honrando o nome do “criador”. A originalidade moldada no velho teatro grego, o teatrólogo, autor, ator, diretor, sonoplasta, maquiador, iluminador... Valente, soube pôr uma máscara na realidade e em tom sarcástico queimar “As Bruxas de Sarieo”, aquecendo os anseios dos que querem se libertar e com a fumaça fétida da hipocrisia suja a honra dos que moldados em preceitos se revelam falsos moralistas.
Valentim Valente, como bem diz Carlos Drumonnd de Andrade, nos faz perceber que toda "história é remorso", assim o convite proposto pelo teatrólogo é fazermos uma viagem “De Cabrobó a Oeiras” e enxergarmos com os olhos da alma, a amarga e doce história do torrão querido, a Oeiras de mil máscaras e de mil e uma histórias.
Deleitar-se com as peças de Valentim Valente, é ao mesmo tempo adentrar a “Casa dos Espíritos”, é penetrar por entre móveis e paredes, vivenciando junto com uma família macabra os momentos mais fatídicos que podem existir: incestos, crimes e tudo o que de mais horripilante um ser humano pode fazer quando a fé é demasiada, claro, se pudermos chamar isso de fé.
Nem a profecia de Nostradamus é tão bem relatada como a de Valentim que em “Apocalipse” evidencia que o fim pode ser o começo, se não encararmos o amanhã como um novo dia, mas como um recomeço, onde se possa parar e fazer planos para se atingir a perfeição.
Por fim, é inefável falar desse artista Valente, Valentim, Lameck, que é um Deus quando dá vida a outros seres. Mas como diz Rachel de Queiroz: “somos imortais, mas não imorríveis”. Por isso devemos credenciar esse artista enquanto vive e reina, pois nada adianta as memórias póstumas a não ser as lágrimas do arrependimento.


Uma homenagem de JUNIOR VIANNA
do blog
http://www.mosaicodavila.blogspot.com/

Estou aqui!

  No meio das voltas e reviravoltas, aqui estou eu. Mesmo quando a vida parecia virar as costas e os supostos "amigos" desaparec...