sexta-feira, 13 de julho de 2007

Sem Dor


Sem dor,
Eu rasguei minhas carnes,
Minha pele, minha casca,
Meu âmago,
Minhas mais profundas e incomunicáveis entranhas...
Sem dor,
Eu dei os mais violentos tapas
Nas faces dos meus melhores amigos
E cuspi em um mar de sangue
Que escorria de minha própria alma...
Sem dor
Eu gritei obscenidade aos idosos,
Utopias aos políticos,
Ofensas aos mais velhos
E calei-me para morder
As palavras carinhosas que eu recebi de mim mesmo...
Sem dor
Eu arranquei com as unhas das mãos e dos pés,
Todas as máscaras que em mim havia.
Mas havia mais.
Muito e muito mais.
E quanto mais eu arrancava
E via minhas caras indo ao chão, como excrementos,
Menos dor eu sentia,
Pois o orgasmo era celestial; ejaculava...
Sem dor
Eu rompi o cordão carnal que me ligava ao mundo e ao medo
De sentir culpa ou remorso...
Sem dor
Eu virei meus sentimentos do avesso, e o futuro,
Que eu conheço de cor, quebrei com um grito,
Transformando o meu eu em cacos de vidros...
Sem dor
Eu me arrasei,
Me envenenei,
Me cortei,
Me tirei a vida,
Arrastei-me pelo chão, comi a terra que meus pés pisavam,
E bebi meu suor que fedia.
Tudo isso para ver que sem dor,
Não há vida.




Lam Valentim

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