segunda-feira, 21 de junho de 2010

Perdoando mesmo que em silêncio

"Imagino que para lidar com as diferenças entre nós e as outras pessoas, temos que aprender compaixão, autocontrole, piedade, perdão, simpatia e amor – virtudes sem as quais nem nós, nem o mundo, podemos sobreviver."
(Wendell Berry)



Uma das virtudes mais difíceis de alcançar é a capacidade de perdoar! Perdão de verdade, que não seja da boca para fora, mas vindo do coração, mesmo que não seja verbalizado. Perdão que tira do peito todo ressentimento e afasta as amarguras. Perdão que sara as feridas provocadas por alguém ou por acontecimentos do dia-a-dia. Perdão que alivia a vida e nela restaura a paz. Perdão que refaz o estado anterior à dor. Perdão que tranqüiliza a mente e acalma a alma. Perdão que permite abrandar as reações e apaziguar as relações. Perdão que desfaz manchas de mágoas e cicatriza os sofrimentos.

Existem muitas maneiras de definir o perdão, porque o perdão é muitas coisas ao mesmo tempo. É uma decisão, uma atitude, um processo e uma forma de vida. Algo que oferecemos a outras pessoas e algo que aceitamos para nós mesmos.

O perdão é uma decisão, a de ver além dos limites da personalidade de outra pessoa, de seus medos, particularidades, neuroses e erros. A decisão de ver a essência pura, não condicionada por histórias pessoais, que tem uma capacidade ilimitada e sempre é digna de respeito e amor. O perdão é a opção de “ver a luz da lâmpada e não a tela”.

O perdão é uma atitude, que pressupõe estar disposto a aceitar a responsabilidade das próprias percepções, compreendendo que são opções, não fatos objetivos. É a atitude de optar por olhar para uma pessoa que talvez alguém tenha julgado e perceber que na realidade, é algo mais que a pessoa “terrível” ou insensível que vemos.

O perdão é um processo, que exige que mudemos nossas percepções uma vez ou outra. Não é algo que aconteça de uma vez por todas. Nossa visão habitual está obscurecida pelos juízos e percepções do passado projetados no presente. Nisto, as aparências nos enganam com facilidade. Quando optamos por mudar nossa perspectiva por uma visão mais profunda, mais ampla e abrangente, podemos reconhecer e afirmar a maior verdade a respeito de quem somos nós e quem são os demais. Como resultado desta mudança, surgem de um modo natural uma maior compreensão e compaixão por nós mesmos e pelos demais.

O perdão é uma forma de vida que nos converte gradualmente de vítimas de nossas circunstâncias em poderosos e amorosos co-criadores de nossa realidade. Enquanto forma de vida, pressupõe o compromisso de experimentar cada momento livre de percepções passadas, de ver cada instante como algo novo, com clareza e sem temor. É o desaparecimento das percepções que dificultavam nossa capacidade de amar.

Ao perdoar nós nos desvinculamos da tristeza, embora permaneça o registro do que vivemos. Somos capazes de lembrar sem desgosto, e depois de algum tempo, que é curador, tudo poderá ser apenas uma lembrança, nada mais. Isso é caminho para o esquecimento

O verdadeiro perdão não precisa ser dito. Ele deve ser vivido mesmo que o outro não saiba, porque, às vezes, o outro não quer mesmo saber se perdoamos ou não. Isso pode não importar para a outra pessoa, embora tenhamos marca profunda dela, como bicho que tem dono. Enquanto não perdoamos, somos prisioneiros de alguém ou de uma situação. Sem perdoar não nos libertamos.

O perdão é algo que vai além da nossa emoção, não importa se o outro sabe ou não que perdoamos. Perdoamos aqueles que nos importam e os que não têm, absolutamente, nenhum significado para nós. O amor ajuda a perdoar, e perdoamos muito por causa dele. Esquecemos em nome do amor, se é maior do que a dor que nós vivemos. E se a pessoa que nos feriu não nos importa, podemos perdoar, porque, simplesmente, não tem relevância na nossa vida a ponto de cultivarmos por ela qualquer sentimento, nem raiva, ódio, o que seja. Nós perdoamos quem amamos para desviar do ressentimento e para reconstituir e reforçar os laços que nos unem a essas pessoas. Com aquelas outras não há laços, elas não têm significado para nós. Melhor perdoar e esquecer.

O perdão flui quando conseguimos restaurar o nosso estado de felicidade, quando recuperamos o que tínhamos antes, mesmo que não seja igual ao que perdemos, e que até pode ser melhor. Quando temos de volta em nossas mãos o que nos foi tirado, nós perdoamos a quem nos tirou, ainda que não seja essa a pessoa a trazer de volta o que era nosso. Nós perdoamos quando sentimos que a vida nos devolveu o que estava perdido. É uma sensação de justiça, ainda que tardia e por outro caminho.

Daí a importância da felicidade, que é a melhor de todas as vinganças, senão a única. A felicidade nos mostra que vale a pena perdoar não só os outros, mas a nós também. Afinal, se não nos perdoamos, jamais saberemos como faz bem o perdão que se dá ao outro, mesmo que em silêncio.

Encontros e despedidas


Aprender a dizer adeus sem dores no coração é algo difícil. Principalmente quando são aquelas pessoas que ganham espaço nos nossos corações e importância nas nossas vidas.

Algumas pessoas que amei se despediram de mim pelo silêncio, outras pela ausência, e me brindaram com o esquecimento. Não sei delas, não sei por onde andam. O que fazem.

Sofri, chorei, passei dias me perguntando por que me deixaram, se eram importantes pra mim, se tinham lugar cativo no meu coração. Outras saíram de um jeito monossilábico, calando explicações que pudessem me consolar ou, ao menos, fazer entender o que aconteceu. Houve quem se afastou com um recado mínimo via computador, um meio que aproxima pessoas, mas não é suficiente para estreitar e manter laços, pois o amor requer presença, exige convívio e pede o compartilhar cotidiano.

Alguns me deixaram sem ao menos se dar ao trabalho da despedida, apenas sumiu no tempo e este ficou responsável pelo afastamento definitivo. Não houve adeus, e isso manteve a esperança de um retorno, que jamais aconteceu.

Algumas pessoas eu deixei por opção ou necessidade, dizendo pouco do que confidenciaria meu coração se pudesse falar sem machucar, e por não saber recolher palavras que não ferissem mais do que o rompimento, por iniciativa minha. Eu as deixava, mas essa escolha não incluía criar feridas, porque delas conhecia as cicatrizes.

Muitas perdas foram irremediáveis, sem solução, sem tempo para despedidas, sem acenos de adeus. Os que morreram levaram a palavra que não foi dita, a emoção não-traduzida, o sentimento que restou de tudo o que foi vivido. O elo se manteve e o esquecimento não veio.

Existem aqueles que saíram da minha vida pela distância, pela falta de oportunidade de retomar o contato. Quando tentei reencontrá-las, estavam longe demais de mim e já não podia alcançá-las com meu carinho ainda existente. Não havia espaço para mim na vida delas, mas eu as mantinha comigo, apesar disso e por não ter ouvido um adeus.

Houve, ainda, quem escolhesse o afastamento lento, devagar, feito aos poucos, de modo quase imperceptível. Quando vi, não estavam mais comigo, mesmo que não tivessem se despedido. Contudo, não os esqueci.

Outros romperam comigo do jeito que mais castiga as emoções, carregados de dores. Uma briga que jamais foi esclarecida, uma mágoa não superada, uma atitude que não foi compreendida e o rompimento se deu de forma inevitável. Não houve um adeus, pois esta palavra é muito forte e parece declarar o fim de um trecho da vida, o desfecho de um fato a que se deu causa ou não.

Nunca aprendi a conviver com as despedidas. Elas são como o fio cortante de uma espada contra o peito do outro. Quando acontece uma despedida, é como se marcasse o fim da estrada que se percorria com alguém. Não é a despedida, o mais difícil, mas a consciência do final da caminhada com aquela pessoa, a certeza de que a história terminou e não tem mais volta. É o “nunca mais” que assusta, atormenta, entristece e cria a dificuldade de dizer adeus a pessoas, fatos e situações. A esperança que não se esgota e sobrevive à perda, com ou sem adeus, aprisiona o coração da gente em laços que não se rompem, apesar da ausência e do silêncio.

Para cumprir o rito do adeus, é preciso reunir em nós toda a coragem que nos resta. Quando o convívio ultrapassa todos os limites do suportável, se não há nenhuma chance de recompor o último fio de respeito, quando o amor se despedaça, se a tristeza é muito maior do que a felicidade é chegada a hora da despedida. Não basta uma atitude e mesmo uma palavra é insuficiente para a ruptura se efetivar.

É preciso soterrar as lembranças, pois o esquecimento é quem dá o adeus que não dissemos ou não ouvimos. Somente a partir disso vem a paz com o que se viveu e, então, tudo passa a ser uma história que acabou. Enquanto nos penduramos em recordações, não há adeus definitivo. Só há rompimento verdadeiro quando arrancamos o que não tem mais razão de seguir conosco, dentro do coração ou ao nosso lado. Tudo o mais é saudade, a inesgotável fonte que abastece vínculos, mesmo os irremediavelmente perdidos.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

No silêncio da noite eu reflito



A noite de sábado estava silenciosa. As ruas e bares estavam vazios. A noite estava fria e o vento gélido teimava em soprar silencioso e calmo. Voltando pra casa o pensamento viaja indo até as veredas do passado, onde encontra situações, pessoas e histórias. Amigos antigos, como a perseverança, que me fez alcançar muito do que almejei; a determinação, que me incentivou a ir em busca dos objetivos; a alegria, que vestiu circunstâncias de sorriso; a fé, que espantou o desânimo; a coragem, que me fortaleceu para passar por cima de todos os percalços postos à minha frente e a confiança, que me fez seguir adiante, sempre firme. Lá também encontrei algumas dores em processo de cura, algumas mágoas transmutadas em perdão, algumas ofensas que com o tempo serão esquecidas.

A viagem chega ao presente onde vejo que é onde a vida pulsa, onde ela se faz. E é no presente que me concentro em ser feliz agora. Paro, olho o futuro e espero por ele sem deixar de viver o hoje. Todo o passado valeu a pena e todas as penas que vivi muito me ensinaram. De um jeito mais suave a felicidade também ensina. As lições do ontem e de agora farão o meu depois melhor. Reúno o que há de bom e me livro do que não é tão bom assim para fazer a minha viagem leve, sem bagagem de que não seja necessária.

Sou partes, pedaços, trechos, estrofes, histórias e canções. Mas busco ser sempre inteiro no que vivo e ter cumplicidade com os meus sentimentos, sem os rejeitar, acolhendo-os para melhor compreendê-los. Olho para o meu interior sem medo do que possa ver, pois quando me encaro eu mais aprendo sobre mim e sobre o que quero para os dias que ainda virão. Mais me sei quando me revejo. E quanto mais aprendo tanto mais quero entender. Às vezes, choro e lavo a alma. Depois eu sorrio, porque sempre há bons motivos. E jamais desisto de mim, pois tudo está em mim mesmo. Não procuro fora nem além de mim o que é necessário aos meus dias. Toda força, toda coragem, e determinação, tudo está no vigor do meu coração e na luz da minha alma. Posso encontrar apoio nos outros, mas somente eu posso agir em favor da minha realização e da minha felicidade. Posso receber conselhos sábios, porém é da minha escolha tudo quanto farei na minha vida. Posso ser orientado, mas somente eu posso escolher os caminhos que vou trilhar. Confio no meu poder e na minha luz. Na minha essência reside tudo aquilo que busco. E sigo assim buscando a felicidade.

Estou aqui!

  No meio das voltas e reviravoltas, aqui estou eu. Mesmo quando a vida parecia virar as costas e os supostos "amigos" desaparec...