segunda-feira, 21 de junho de 2010

Encontros e despedidas


Aprender a dizer adeus sem dores no coração é algo difícil. Principalmente quando são aquelas pessoas que ganham espaço nos nossos corações e importância nas nossas vidas.

Algumas pessoas que amei se despediram de mim pelo silêncio, outras pela ausência, e me brindaram com o esquecimento. Não sei delas, não sei por onde andam. O que fazem.

Sofri, chorei, passei dias me perguntando por que me deixaram, se eram importantes pra mim, se tinham lugar cativo no meu coração. Outras saíram de um jeito monossilábico, calando explicações que pudessem me consolar ou, ao menos, fazer entender o que aconteceu. Houve quem se afastou com um recado mínimo via computador, um meio que aproxima pessoas, mas não é suficiente para estreitar e manter laços, pois o amor requer presença, exige convívio e pede o compartilhar cotidiano.

Alguns me deixaram sem ao menos se dar ao trabalho da despedida, apenas sumiu no tempo e este ficou responsável pelo afastamento definitivo. Não houve adeus, e isso manteve a esperança de um retorno, que jamais aconteceu.

Algumas pessoas eu deixei por opção ou necessidade, dizendo pouco do que confidenciaria meu coração se pudesse falar sem machucar, e por não saber recolher palavras que não ferissem mais do que o rompimento, por iniciativa minha. Eu as deixava, mas essa escolha não incluía criar feridas, porque delas conhecia as cicatrizes.

Muitas perdas foram irremediáveis, sem solução, sem tempo para despedidas, sem acenos de adeus. Os que morreram levaram a palavra que não foi dita, a emoção não-traduzida, o sentimento que restou de tudo o que foi vivido. O elo se manteve e o esquecimento não veio.

Existem aqueles que saíram da minha vida pela distância, pela falta de oportunidade de retomar o contato. Quando tentei reencontrá-las, estavam longe demais de mim e já não podia alcançá-las com meu carinho ainda existente. Não havia espaço para mim na vida delas, mas eu as mantinha comigo, apesar disso e por não ter ouvido um adeus.

Houve, ainda, quem escolhesse o afastamento lento, devagar, feito aos poucos, de modo quase imperceptível. Quando vi, não estavam mais comigo, mesmo que não tivessem se despedido. Contudo, não os esqueci.

Outros romperam comigo do jeito que mais castiga as emoções, carregados de dores. Uma briga que jamais foi esclarecida, uma mágoa não superada, uma atitude que não foi compreendida e o rompimento se deu de forma inevitável. Não houve um adeus, pois esta palavra é muito forte e parece declarar o fim de um trecho da vida, o desfecho de um fato a que se deu causa ou não.

Nunca aprendi a conviver com as despedidas. Elas são como o fio cortante de uma espada contra o peito do outro. Quando acontece uma despedida, é como se marcasse o fim da estrada que se percorria com alguém. Não é a despedida, o mais difícil, mas a consciência do final da caminhada com aquela pessoa, a certeza de que a história terminou e não tem mais volta. É o “nunca mais” que assusta, atormenta, entristece e cria a dificuldade de dizer adeus a pessoas, fatos e situações. A esperança que não se esgota e sobrevive à perda, com ou sem adeus, aprisiona o coração da gente em laços que não se rompem, apesar da ausência e do silêncio.

Para cumprir o rito do adeus, é preciso reunir em nós toda a coragem que nos resta. Quando o convívio ultrapassa todos os limites do suportável, se não há nenhuma chance de recompor o último fio de respeito, quando o amor se despedaça, se a tristeza é muito maior do que a felicidade é chegada a hora da despedida. Não basta uma atitude e mesmo uma palavra é insuficiente para a ruptura se efetivar.

É preciso soterrar as lembranças, pois o esquecimento é quem dá o adeus que não dissemos ou não ouvimos. Somente a partir disso vem a paz com o que se viveu e, então, tudo passa a ser uma história que acabou. Enquanto nos penduramos em recordações, não há adeus definitivo. Só há rompimento verdadeiro quando arrancamos o que não tem mais razão de seguir conosco, dentro do coração ou ao nosso lado. Tudo o mais é saudade, a inesgotável fonte que abastece vínculos, mesmo os irremediavelmente perdidos.

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