sábado, 7 de junho de 2025

A urgência de estar vivo

 


Eu quero mais é correr sem rumo. As pernas soltas, o peito aberto, o vento batendo no rosto como quem dá um abraço de saudade. Há uma alegria sem explicação nesse correr desgovernado, como se os pés conversassem com o chão e a alma pedisse mais velocidade.

Gritar até perder a voz. Deixar que o som rasgue a garganta, que o grito vire música, que a música seja só minha. Um grito sem direção, feito para o céu, para as árvores, para as nuvens que passam carregadas de vontades que não se calam.

Brincar com a terra, sentir a textura viva daquilo que me sustenta. Sujar as mãos, os pés, o rosto. Entrar em comunhão com o chão e reconhecer ali uma infância que nunca me deixou. Me lambuzar de tinta colorida, espalhar cores pelos braços, pelos cabelos, pelos sonhos. Virar obra de arte sem moldura, exposição viva de sentimentos.

Me molhar até na alma. Sentir a água escorrer pelo corpo como bênção, como batismo diário. Um mergulho sem pressa, com os olhos fechados e o coração aberto. Deixar que o frio da água desperte o que adormeceu em mim.

Levantar os braços e de olhos fechados rodar até ficar tonto. Sentir o mundo girar dentro e fora, perder o equilíbrio e ganhar o instante. Cair e rolar no chão pra sentir todas as partes do meu corpo, como quem confirma que está inteiro, que ainda pulsa, que ainda vive.

Rasgar toda minha roupa, despir o corpo e também as formalidades. Rir com o gosto de quem não precisa esconder o riso. Rir alto, com gosto, com os olhos brilhando. Aquela risada que vem de dentro, que explode sem pedir licença, que faz cócegas na alma e espalha vida por onde passa.

É isso. Viver com esse desassossego bonito, com essa sede de sentir tudo, com essa urgência de ser inteiro. Porque há dias em que o mundo precisa de menos regra e mais dança. De menos pressa e mais entrega. De menos fala e mais presença.

E eu, nesses dias, só sei existir assim: correndo, gritando, brincando, rindo. Vendo o tempo passar como se fosse criança brincando de esconde-esconde. E eu? Eu me deixo encontrar.

 

A urgência de estar vivo

  Eu quero mais é correr sem rumo. As pernas soltas, o peito aberto, o vento batendo no rosto como quem dá um abraço de saudade. Há uma al...